Flor, confiança e lar.

17:42


Ela me disse que não queria romance, que poderia resultar em dor de cabeça. Alegava com tanta certeza que não iria dar certo que eu me peguei pensando se mesmo com todas as minhas tentativas de ter um romance bem sucedido ela não tiraria uma carta da manga para estragar tudo, só para ter razão, só para não dar o braço a torcer. Não queria ter nada, não teria então. 

Nas horas de carência, ela se pegava pensando se não valeria a pena, ao menos essa vez. Me ligava, chamava pra ir comer alguma coisa, que comprou os ingredientes pra fazer aquela receita que a gente viu na internet "ah, não lembra? Vou te marcar lá então" e eu me sentia parte de algo. Naqueles momentos de "fraqueza", como ela intitulava, éramos algo. Mas esse algo não era o suficiente, ou era algo em demasia. Qualquer que fosse, não suportaria por tanto tempo. Sabe, você pode dizer que tem uma solução simples pra mim: larga de mão, vai viver tua vida, deixa isso pra lá - já ouvi muito essas coisas, da própria inclusive. Mas não dá. Ela é complicada, mas eu também sou. E meio que isso encaixa.

A gente se conheceu em balada, dizem que não se encontra o amor da sua vida na noite, mas existem exceções, talvez seja a nossa. Demorou uns bons meses para eu ver que tinha algo a mais nas minhas vontades de vê-la sempre que possível, mas nem demorou tanto assim para que eu visse o interesse dela abaixo do nível do meu. Mas quanto mais o tempo passava mais eu dizia que dava pra continuar e que eu não estava sentindo nada demais, e se estivesse um dia ela sentiria igual. Como eu disse, a gente é complicado. A gente gosta de complicar, na real. 

Eu gosto de ver ela deitada lendo alguma coisa enquanto tento entender como ela consegue ser tão focada num livro e em minutos suspirar, cansou, fecha aquele, pega outro, saboreia alguns capítulos e torna a trocar. Será isso que acontece com os caras que aparecem na vida dela? Perder o interesse momentâneo, se afastar quando chega na parte emocional. Ela se despia na minha frente, em plena luz do dia, fingindo não estar ligando se a calcinha não combinava com o sutiã, colocando uma camisa velha minha. Eu observava cada passo daquele momento infinito, cada movimento que ela fazia e a natureza parecia entrar em sintonia mais do que nunca, a luz do sol indo se pôr sob sua pele macia, mesmo a essa distância eu conseguia sentir o seu perfume, exalava algo suave, porém doce, cheirava a flor, confiança e lar. Deitava na cama, esticando as pernas pra cima, com as meias calças de quase sempre, mexendo os pés, provavelmente lembrando de quando dançava. Ela tem um sorriso puro, ela me olha sorrindo e não desejo mais apenas o seu corpo, desejo me doar a ela. Pergunto o que achou da última série que saiu, se tem alguma coisa que quer assistir, sempre tem. Assistimos documentários como dois jovens senhores e hoje eu só consigo pensar que são por sextas assim que vale a pena baixar a guarda. Peço comida japonesa, desço e vou à padaria comprar um vinho pensando quem ditou as regras das relações e porque a minha relação seria menos válida que qualquer outra por não ter um rótulo. Abro a porta, a comida chegou, ela está a mesa, me esperando, duas taças prontas para receber vinho, aquele sorriso puro, radiante, aguardando que eu sente e não importa quando eu olhe ou de que ângulo, ela sempre é a visão mais bonita. 

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